MORTE E VIDA, NÃO SÓ SEVERINAS

“Somos muitos Severinos/ iguais em tudo na vida”.


Hoje faz 20 anos de uma tragédia que chocou o mundo todo. Neste dia, muito iremos ver e ouvir, por meio de reportagens e postagens diversas, acerca dos ataques cruéis realizados contra os Estados Unidos e, com toda razão, nos irmanaremos ao luto dos familiares das vítimas do referido atentado. A par das questões e das motivações que culminaram nesse trágico episódio, o fato é que a intolerância, o desrespeito, o extremismo, o fanatismo religioso, o ímpeto pelo poder a qualquer custo sempre resultam no pior para todos e, principalmente, para os mais vulneráveis.


“E se somos Severinos/ iguais em tudo na vida,/ morremos de morte igual,/ mesma morte Severina”.
No Brasil, já se somam quase 600 mil mortos, vítimas da Covid 19. Esse número, segundo especialistas, poderia ser bem menor. Pesquisas apontam que, ao menos, metade das mortes seriam evitadas não fossem interesses escusos de políticos, empresários e líderes religiosos brasileiros, conforme documentos e informações levantados pela CPI que trata desse tema no Senado Federal, no que se refere a desvio de verbas, superfaturamento de preços, contratos fraudulentos, entre outras volubilidades.


“E sabeis quem era ele,/ irmãos das almas,/ sabeis como ele se chama/ ou se chamava?/ Severino Lavrador,/ irmão das almas,/ Severino Lavrador,/ mas já não lavra”.


Outros números e episódios afligem nossa nação, entre os quais 20 milhões de pessoas passando fome (isso mesmo, gente que não come ou come mal o dia todo); botijão de gás na casa dos 100 reais, levando irmãos e irmãs nossos a buscarem alternativas para cozinhar ossos por meio de fogareiros improvisados com etanol, provocando acidentes graves, com queimaduras de segundo e terceiro graus por todo o corpo. E não é por que o brasileiro seja preguiçoso, não. Nosso povo é forte, valente e resiliente, mas, sem políticas públicas adequadas, somam 15 milhões de desempregados. Salário mínimo sem valor real de compra; gasolina a 6 reais o litro (há locais que chegam a 7); energia elétrica já na terceira bandeira vermelha, uma vez que duas não foram suficientes para “educar” os consumidores e, mesmo assim, estamos avizinhados por apagão. Sem comida, sem emprego, sem renda, sem teto e, ainda por cima, sem luz no fim do túnel.


“— Nunca esperei muita coisa,/ digo a Vossas Senhorias./ O que me fez retirar/ não foi a grande cobiça;/ o que apenas busquei/ foi defender minha vida/ de tal velhice que chega/ antes de se inteirar trinta”.


O último 7 de setembro mostrou-se como uma espécie de retrato de uma parcela da população brasileira, mesmo sendo minoria, que não está nem um pouco preocupada com os cenários descritos antes. Um perfil de “ser humano” que não se importa com a quantidade de vidas ceifadas em meio a uma pandemia, já que recusa vacina, não usa máscara e que segue com desordem e balbúrdia na maior crise sanitária deste século. Uma categoria de gente que se incomoda com um mural pintado por estudantes prestando homenagem a uma mulher preta, homossexual, pobre e favelada, defensora dos direitos humanos, mas que se veste com orgulho homenageando torturador. Um grupo que, como diz Cazuza, quer transformar o País inteiro num puteiro para ganhar mais dinheiro e camuflar a verdadeira agenda brasileira. Sob o “argumento” de liberdade de expressão, vomita as mais cruéis palavras e incita violência contra os pilares e instituições fundamentais da democracia, tanto no mundo real quanto no virtual, e depois se vale destes mesmos recursos democráticos quando se sente acuado, fazendo uso de habeas corpus para fugir da prisão.


“— Agora trabalharás/ só para ti, não a meias,/ como antes em terra alheia./ — Trabalharás uma terra/ da qual, além de senhor,/ serás homem de eito e trator”.


Quando as democracias morrem, morrem com elas também a esperança, a dignidade, a solidariedade, o amor. Morrem vidas, sobretudo as mais fragilizadas, dos que não têm acesso aos serviços básicos e aos direitos mínimos garantidos em nossa Carta Magna, a Constituição Federal. Está passando da hora dos progressistas, dos humanistas, dos cristãos de verdade se insurgirem contra toda sorte de mal que fere nossa nação. Queremos paz, comida no prato, emprego, cultura e educação, vacina no braço e misericórdia.

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