YES, NÓS TEMOS LITERATURA INFANTIL

“Literatura infantil é, antes de tudo, literatura”.


A afirmativa acima é da professora e pesquisadora Nelly Novaes Coelho, responsável pela criação da disciplina de literatura infantil e juvenil, na Universidade de São Paulo, uma das pioneiras no Brasil.


Na mesma linha, o igualmente importante poeta, escritor e tradutor José Paulo Paes afirmou certa vez: “A minha poesia é adulto-infanto-juvenil”, referindo-se às suas produções, com ênfase nas dirigidas a crianças e adolescentes, como obra de arte, ou seja, com condições de transitar entre os mais diferentes públicos, das diversas faixas etárias, classes sociais, múltiplas formações etc.


Quando ainda cursava mestrado, assisti a uma palestra proferida por Bartolomeu Campos de Queirós, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, câmpus Três Lagoas, em que ele fez a seguinte pergunta: “Para quem é destinado o pôr do sol?”; como resposta: “Para todos. Não importa idade, nacionalidade, condição financeira. Cada qual à sua maneira deleita-se com o nascer ou com o pôr do sol”. Isso porque há, segundo essa afirmação, alguma coisa de encantamento nesse fenômeno da natureza que envolve a todos e, cada um a seu modo, absorve o momento. Assim ocorre com a obra de arte, com a poesia, com a literatura.


Claro que há especificidades na escrita dirigida aos diferentes públicos. Não é essa a questão que está sendo levantada. Entretanto, como linguagem artística, como obra de arte, há que se ter algum elemento nelas que atraia crianças, jovens e adultos. Para Ezra Pound, esse elemento seria a poesia.


Todas as pontuações feitas acima se relacionam com o fato de, ainda, muitos considerarem a produção literária voltada para crianças e adolescentes como algo menor. Muito desse pensamento está alicerçado no tratamento historicamente dispensado às crianças e adolescentes no mundo todo, ou seja, em enxergá-los como um “ser humano menor”, incompleto e que, por isso, “qualquer coisa serve” para satisfazê-los. Basta ver os muitos exemplos cotidianos na forma como a infância é tratada no Brasil e no mundo, a ponto de se ter que criar um documento específico, o Estatuto da Criança e Adolescente, a fim de determinar, inclusive, penalidades a quem o infringir.


Por outro lado, temos no mundo todo profissionais que se debruçam, tanto produzindo literatura e poesia de qualidade para crianças e adolescentes quanto analisando e pesquisando essas produções. No Brasil, esse trabalho de pesquisa deve muito a Nelly Novaes Coelho, Regina Zilberman, Marisa Lajolo, Maria Zilda da Cunha, Renata Junqueira de Souza, João Luís Ceccantini, José Nicolau Gregorin Filho, entre outros.


Por conta do recorte aqui feito, do ponto de vista da produção literária e poética voltadas para este público, ficaremos apenas com exemplos de escritores e obras pertencentes à Academia Araçatubense de Letras – AAL, a saber: Ana Lúcia de Arruda Ramos Rezende, autora de: Você é meu amigo?; Festa na Floresta; Encontro na feira; Colorida; e Lenga-lenga do Tatu Bolinha. Antonio Luceni dos Santos, que tem publicados: Júlia à procura da consciência perdida; Com quantos chapéus se faz um Chapeuzinho; Poesia, pipoca e pião; A história do Bichinho, em coautoria com Wilma Gottardi; e O Menino e o Vento. Fernanda Colli, autora de uma coletânea de textos, com 3 volumes, sob o título “Um conto de fadas à moda caipira”. Fernando Henrique Bononi Verga, autor de: O alfaiate apressado e outros poemas. Francisco Antônio Ferreira Tito Damazo e seu: Sob a batuta do bicho grilo – poemas. Marilurdes Martins Campezi, ou Lula, como é mais conhecida, com os livros: A arca da bicharada I e II; e Larissa e as estrelas. Marly Aparecida Garcia Souto, que tem publicados: Poetando a adoção, adotando a poesia; Entre nós; e Uma dose de amor. Yara Clarice Pedro Rodrigues de Carvalho, com: Um dia, um anjo; Lanche de bandeja; Capitão Melancia; Vida marinha; e O mistério do objeto luminoso.


Este é o grupo de acadêmicos que, com esforços individuais e/ou coletivos, busca em Araçatuba e região ecoar, com maior ou menor sucesso, os muitos “cantos de galos” provenientes da produção literária e poética voltada para crianças e adolescentes, tanto do ponto de vista estético quanto aos ligados ao ensino e à aprendizagem do tema, por meio de aulas, palestras, oficinas literárias, encontros com o escritor, entre outros.


Gostaria de encerrar essa breve reflexão com os versos de Castro Alves, quando diz: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros à mão cheia/ E manda o povo pensar!/ O livro, caindo n’alma/ É germe – que faz a palma,/ É chuva – que faz o mar!”.


Que a Academia Araçatubense de Letras continue nessa rica e importante vocação que é a de semear livros, leitura, literatura e poesia para os araçatubenses por muitos e muitos anos ainda. E que estas “sementes” sejam lançadas o mais cedo possível, nos solos férteis de crianças e adolescentes, e produzam muitos e muitos frutos.

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