UM ÍNDIO

Um índio.


Os historiadores falam em 05 milhões o número de indígenas quando do “descobrimento” do Brasil. Hoje, não passam de 400 mil. Quantas línguas, quantas formas de conhecer e expressar o mundo foram dizimadas, destruídas a partir de uma visão egoísta, preconceituosa e vil.
Uma índia.


A virgem dos lábios de mel? Dócil? Comida saborosa ofertada ao invasor, idealizada pelo homem branco? Ou uma mulher guerreira, trabalhadora, cuidadora da terra e de todas as criações e criaturas da mãe-terra?


As Índias?


Dizem que o destino final dos colonizadores eram as Índias e não o Brasil. Erro de rota desgraçado, cujo saldo foi o genocídio dos povos indígenas, a sangria de nossos minérios, florestas e do suor e sangue de nossa gente, além de outros povos além-mar para cumprir essa terrível e danosa missão colonizadora. O que a ambição, o egoísmo e a vaidade humanas são capazes de fazer? Qual o preço de tanto desequilíbrio?


Indígenas.


Os verdadeiros protetores das florestas, das águas, dos bichos, de nossa ancestralidade. Estudos científicos demonstram que a floresta amazônica e outros biomas brasileiros ainda sobrevivem por conta da proteção exercida pelos povos originários. Não fossem estes, a ganância dos colonizadores e de outros brancos “civilizados” já havia destruído tudo.


Um ambientalista.


Chico Mendes foi brutalmente assassinado no final da década de 1990 também por defender as florestas e os seringais nativos, a partir dos quais milhares de brasileiros tiravam seu sustento de forma sustentável.


Uma cristã.


Irmã Dorothy, uma cristã com “C” maiúsculo, foi vítima da cobiça e ganância humanas ao ser assassinada com sete tiros no Pará por defender os sem-terra. Cristão verdadeiro luta pela paz, pelo amor, pelos menos favorecidos e, a rigor, termina como Jesus: assassinado. Difícil acreditar em cristão que prega guerra e porte de armas. Muito menos naquele que insinua tal atitude a respeito de Jesus Cristo.
Um indigenista.


Bruno Pereira doou sua vida em favor dos povos indígenas e da floresta amazônica. Morreu trabalhando com aquilo que amava, mesmo trabalhando de graça. A sua voz jamais será calada. Agora ecoa em todo o universo, por entre nós, juntamente com sua ancestralidade e as ancestralidades das florestas.
Um jornalista.


Dom Philips era um daqueles seres humanos abnegados, que deixa sua pátria e vai servir a outra. Já havia passado por diferentes estados brasileiros, em muitos deles doando seu trabalho e energia a populações carentes, ensinando inglês. Estava mergulhado na floresta amazônica preparando um livro justamente para refletir conosco sobre como salvá-la.


Um índio.


Não há mais o que dizer; tudo está posto. Só não vê quem não quer. Como afirma a poeta, “Embaixo e em cima da terra,/ o ouro um dia vai secar./ Toda vez que um justo grita,/ um carrasco o vem calar./ Quem não presta fica vivo:/ quem é bom, mandam matar”. Naturalizar a barbárie, ignorar o sangue derramado por tantos pra que tenhamos o mínimo de civilidade é opção de cada um. Ainda que reste um índio apenas, este será semente. “Virá impávido que nem Muhammad Ali”.

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