EU E MEUS MOINHOS DE VENTO

Por mais que tenhamos ações voltadas para livros, leitura e literatura; por mais que essas ações sejam gratuitas e rotineiras; por mais que façamos imensos esforços para ofertar atividades culturais em nossas cidades, vemos que o público sempre é muito reduzido. Parece mesmo que o adágio popular “santo de casa não faz milagres” prepondera.


Aí fico pensando: Onde estão nossos amigos e conhecidos que tanto clamam por livrarias e bibliotecas na cidade? Onde estão os que, em seus discursos, sentem-se gravemente indignados com a ausência de equipamentos ligados ao livro em Araçatuba? Onde estão aqueles que, na fala, precisam tanto da literatura, da poesia, das artes?


Estão em casa dormindo… “estão todos dormindo, profundamente!”.


Todos nós, escritores, quando lançamos livros, temos que sair com eles debaixo do braço, oferecendo-os a amigos, conhecidos, desconhecidos e, até, inimigos para que não fiquem encalhados na prateleira.
Por que o que produzimos é ruim? Penso que não. Porque muito pouca gente quer comprar livros ou mesmo os pega emprestado para ler.


Não poucas vezes presencio mostruários de bijuterias, pacotes de roupas íntimas, revistas de Avon, Jequiti, Hermes, Boticário e outras expostos em salas de professores. As vendedoras têm, inclusive, cadernetas com contas perpétuas de funcionárias e funcionários que, mensalmente, fazem com que esses produtos sejam infinitamente produzidos para mantê-los.


Nada contra perfumes e bijuterias, mas por que não conseguimos, também, manter contas de livros em cadernetas? Por que nossas papelarias – até hoje não conseguimos ter uma livraria na cidade – não conseguem manter (ou angariar) um público cativo que compre livros mensalmente, que se interesse por lançamentos e encontros com autores, que faça do hábito de ler não somente um “artigo de luxo” ou de “finesse”, mas uma ação cotidiana e saudável para o cérebro, para ampliação de saberes e formas de ampliação de repertórios dos mais diversos?


A meu ver – e a experiência é que me garante isso – “gostar do livro” é algo “bonitinho”, politicamente correto e resposta pronta pra quem quer impressionar. Agora, relacionar-se com livro não é para qualquer um; tem que ter coragem, tem que ter vontade, tem que, de fato, pagar o preço por isso.

Literalmente. Enquanto o livro for importante para a maioria somente no discurso, teremos esse cenário a que Araçatuba e muitas outras cidades de nossa região e do Brasil passam: uma sonolência literária.
E eu, continuo a lutar contra meus moinhos de vento.

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