À BADALADA DO SONORO PISEM ÀS FLORES

Eram três horas da manhã, tudo estava calmo e sombrio. As tratativas já haviam sido feitas tudo às escuras, seria contra eles, a princípio um ataque sorrateiro, mas ao mesmo tempo direto. Um lobo jamais agiria solitariamente sabendo que a presa está bem protegida, sabiam que mais que planejar não poderia haver falha na execução. Quantos homens de tutano verde-olivas estão alistados? Colocou a mão sobre a cabeça e pensou em busca de respostas. Na reunião anterior haviam levantado algumas hipóteses, envenena-lo-eis, recrutemos dentre nós um sniper, sabotaremos seu avião, seu carro, iremos dinamitar o quê, quando, onde? … Na história já tínhamos registro daquilo e muitas deram certo. Matando a cabeça o corpo não mexe, fato.

Enquanto pensava lhe veio à mente uma passagem bíblica que dizia que há tempo para todas as coisas, tempo de ficar parado e tempo de agir, tempo de calar e tempo de falar. Já haviam queixado suas zangas e os inimigos vestidos em pele de cordeiro fingiam não ouvir, entrava-lhe por um ouvido e saía por outro. Um sorriso maroto nos lábios, tipo sei, mas… então o que restava agora seria algo mais contundente lutar ou morrer de joelhos, a primeira negociação todos sabiam era o diálogo, mas uma vez que o diálogo acaba o casamento acaba e a guerra é declarada.


Quantos lobos se juntaram à alcateia, uns, alguns, dezenas de milhares… Examinar o terreno, preparar e iniciar o ataque, soldado não abandona soldado era o lema. Não seria uma tarefa fácil, a não ser que os Cinzas virassem às costas para aqueles satanases. Hum…covardes, temiam isso, mas eram valentes e estavam dispostos a massacrar o povo. Não seria mais fácil o primeiro.


Não não não. A escolha dos Cinzas era ficar só do lado errado. Já que os vermes Cinzas covardes se aliaram a um único homem doente, marchar às ruas contra os canhões e pisar às flores sem dó nem piedade. Nem mesmo as mulheres poderiam recuar. O destino estava selado, nossa liberdade tinha um preço, luta e sangue. Vendê-la hoje em troca de uma pseudosegurança, jamais. Até porque o que vinha a frente era muito maior e todos já sabíamos o que era, a arapuca estava armada contra nós.

Nos chamavam de golpistas, não éramos. Faziam jogos políticos e usavam técnicas de domínio onde nosso subconsciente estava pouco a pouco sendo preparado. Muitos eram os que dormiam e dormiam um sono profundo, os eleitos não. Estes eram como atalaias, suas lamparinas estavam sempre acesas e comiam como o cão olhando o tempo todo de um lado ao outro, revezavam em suas guardas, não cochilavam. Naquele instante, lembrei-me de Os Sertões, Euclides da Cunha, sobraram apenas quatro e rangiam os dentes como animais ferozes.

A República achava-os fracos, desunidos e que se renderiam facilmente, mas o tiro saiu pela culatra, o solo se embebedou dos sangues de muitos vermes Cinzas também. Os Cinzas sempre escolheram o lado errado, defender os governos. Sistemas totalitários só acontecem porque os Cinzas apóiam os Insanos. Gritavam nos quartéis: ordem ilegal não se cumpre senhores! Vindo dos governadores todas as ordens pareciam ser legais, eram como crianças que qualquer coisa os divertiam se deles procedesse. Tinham medo de serem presos, não tinham medo de iniciar uma guerra e derramarem muito sangue inocente. Aos olhos deles todos eram vagabundos.

Não era por demais incoerente? Eram apenas dois homens feitos, um velho e uma criança os quais rugiam ferozmente diante de cinco mil soldados. Não se renderam eram homens de culhões, tinham fibra. Pensa que perderam a batalha? Quem escreveu a história quis que você acreditasse que perderam. Quem escreveu a história colonial quis que você acreditasse que os negros nunca reagiram. Quem escreve a história cria suas hegemonias salpicando a seu gosto, assim são os governantes. Inventam, mentem descaradamente, simulam, dissimulam, roubam e justificam seus atos, são doentes psiquiátricos fora do manicômio.

O relógio do Apocalipse avançava a contragosto e, em mares bravios todos se encontravam, aos fortes e preparados, o salvamento. Aos que dormitam a fome e a morte. Naquela noite na badalada dos sonoros, às três horas da manhã, não se viu nenhuma alma dentro de suas casas, a não ser um guardião responsável com as crianças.

Todos foram ao combate cada um lutou como pode para um bem maior, o coletivo, a liberdade primeiro para depois a segurança. Quem venceu se encarregou de contar a história …

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